terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MIL

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Este jogo espanhol de Firmino Martínez teve certa notoriedade desde seu lançamento em 2011 como eurogame pesado e denso.

O título faz trocadilho com “mil”, permitindo-se a liberdade poética — anunciada no manual — de usar MIL como romano para 1049 (o correto é MXLIX).

Tematicamente, o jogo é fundado em aspectos políticos, sociais e militares da Idade Média. O jogador faz suas ações com seus 2 a 4 cavaleiros, que podem possuir castelos, feudos e vassalos, podem recrutar soldados, ter filhos como herdeiros e casá-los com a mulher da família que oferecer o melhor dote.

As mecânicas dão um leve sabor do tema empregado, mas este é, ainda, um autêntico euro, que rapidamente faz com que passemos a enxergar comida como “cubos verdes” e mulheres como “cubos vermelhos”, etc.

A estrutura de MIL é formada por diversos “mini-jogos” simultâneos, que se encaixam muito bem, mas dão grande complexidade ao todo. A fase de ações tem um intenso elemento tático e de posicionamento, pois os jogadores começam fazendo importantes ações em que não precisam (nem podem) mover seus cavaleiros, mas a fase acaba bem depressa quando os cavaleiros começam a ir para o tabuleiro, em “worker placement”, e os jogadores precisam evitar ficar com seus cavaleiros do lado de fora.

Uma vez no tabuleiro, os cavaleiros disputam uma série de “maiorias”, que dão pontos e recursos, e permitem novas ações diferenciadas, que estavam indisponíveis na primeira fase. É aqui que pode haver combates por terras dos adversários, bem como tentativas de transformar um cavaleiro inimigo em seu vassalo.

As oportunidades de ganhar pontos, recursos, castelos, cavaleiros, herdeiros, dotes, terrenos, soldados, vassalos, etc. estão pulverizados por todos os cantos. Esta é, sem dúvida, uma tendência dos últimos anos em jogos desse tipo, observada em sucessos como The Castles of Burgundy, Trajan e Hawaii, além de muitos outros.

Falei sobre essa tendência na postagem da semana passada aqui no blog.

Fica o jogo indicado para quem aprecia os títulos citados acima, ou para quem gosta de jogos bastante complexos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

As multi-maquininhas de pontos

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Uma tendência dos últimos anos são os jogos de uma categoria que podemos chamar de multi-maquininhas de pontos. The Castles of Burgundy, Trajan, Hawaii e diversos outros se enquadram nessa categoria.

São todos muito bons jogos, bem elaborados e bem desenvolvidos, que estão hoje atraindo e divertindo milhares de pessoas. Mas tenho uma crítica a eles, que está na ausência de um significado estratégico claro para as ações.

Creio que isso pode fazer com que se tornem cansativos depois de um tempo (alguns anos). Claro que é cedo para dizer: o primeiro jogo de que me recordo com essa tendência é o Hansa Teutonica, de 2009. Sobre ele, há alguns números interessantes. Segundo o sistema voluntário de registro de partidas por usuários do BGG:

379 pessoas o jogaram em Janeiro de 2011
211 pessoas o jogaram em Janeiro de 2012
151 pessoas o jogaram em Janeiro de 2013

Compare com os números de Caylus, um clássico moderno lançado em 2005, quatro anos antes de Hansa Teutonica.

257 pessoas o jogaram em Janeiro de 2011
276 pessoas o jogaram em Janeiro de 2012
242 pessoas o jogaram em Janeiro de 2013

O interesse por Caylus chegou a subir de um ano para outro, e a diferença entre o primeiro e o último ano é de apenas 5%, o que me parece uma oscilação bastante normal, enquanto em Hansa Teutonica a queda de interesse foi de 60%!

Com isso, tenho a impressão de que essa categoria irá saturar em quantidade de títulos lançados e começará a perder o interesse com o tempo.

Minha experiência com Luna, que também praticamente se encaixa nessa categoria, pode ser outro indício. Empolgado, cheguei a realizar 14 partidas dele ao longo de um ano, e então fiquei completamente enjoado. Há jogos que joguei algumas vezes e não tenho mais interesse, porém nunca havia “enjoado” de um jogo. Pela internet, já joguei quase 5 mil partidas de Xadrez, quase 1 mil de Dominion; à mesa, já joguei 52 partidas de Civilization, que demora em média 4 horas, ao longo de um período de 2 anos, e não me vejo enjoando nem parando de jogar nenhum desses títulos.

Qual pode ser o “problema” (se houver) desse tipo de jogo?

Em princípio, eles são claramente atraentes. Muito táticos, exigem máxima eficiência, pois é comum que o jogador tenha à sua disposição uma grande quantidade de ações e todas são, de algum modo, boas. Às vezes ele precisa interpretar que, se fizer agora uma ação que lhe dará 3 pontos, no turno seguinte poderá fazer uma ação de 5 pontos, enquanto escolher uma de 5 pontos agora talvez lhe dê no máximo uma oportunidade para 2 pontos em seguida. Desenrolando essa perspectiva para um jogo inteiro em que fará 15, 20, 30 ações, temos um árduo quebra-cabeça matemático, que deve ser montado da melhor forma possível enquanto se tenta atrapalhar os adversários na mesma tarefa.

O resultado disso é um jogo tático que permanece tático em todos os níveis de análise. Assim, temos somente o cálculo, sem nenhum apoio de planejamento “analógico”. Vamos desenvolver esse raciocínio.

Xadrez e Puerto Rico são dois jogos também totalmente táticos. O primeiro é um clássico de 500 anos de existência, cada vez mais praticado e estudado: milhares de livros já foram escritos sobre ele. O segundo é um clássico moderno, com seus 11 anos, muito diferente do Xadrez, mas com constante interesse de muitas pessoas (636 usuários do BGG o jogaram em janeiro de 2011, 624 em janeiro de 2013…).

O fato é que ambos podem ser debatidos em termos estratégicos claros. Estimulam no ser humano sua intuição mais concreta, seu sentido de planejamento e execução.

Nas multi-maquininhas, é comum que a situação do jogador mude completamente entre um de seus turnos e o seguinte. Em Puerto Rico, um plano definido no início geralmente permanece, ele recompensa a coerência e o timing adequado das ações.

Um jogo com sentido estratégico pode ser analisado em português, com raros números envolvidos; no caso da multi-maquininha, sua linguagem é a aritmética.

Por esses motivos é que, conforme disse anteriormente, acredito que esses jogos devem perder força com o tempo. Certo ou não nessa especulação, o fato é que já de imediato tais jogos não me empolgam. Assim que percebo estar diante de um deles, passo para a frente e retorno aos meus preferidos.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

3 jogos novos

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Tenho conhecido alguns jogos recentemente e vou compartilhar as impressões com vocês.

HAWAII
Muito bom jogo. Experimentei em duas partidas. Para quem tem gostado do estilo do Feld (atenção, este NÃO É do Feld), como em Trajan e Burgundy principalmente, provavelmente vai adorar este. Infelizmente não é meu estilo, então já vendi o meu para a Flávia Banin. :-)

CONFUCIUS
Também foram duas partidas até agora. Excelente. Por enquanto, quero continuar jogando para ver. Até horas depois da partida fiquei pensando no que fazer, nas estratégias. Talvez Antonio De Marchi não tenha gostado muito, mas o Egon Araujo e o Rafael Gomes gostaram!

MIL
Joguei apenas meia partida. O João Bosco disse que vai comprar, a Vanessa Pantarotto gostou. É bem complexo e, como se diz, "fiddly", mas acho que muita coisa faz sentido e acaba sendo assimilado. Concordo com algo que disseram: é um euro que consegue ser bem temático. Quero experimentar mais vezes.

Estou para receber mais 4 novidades:

LEGACY: GEARS OF TIME
ESCAPE
ARTICLE 27
TERRA MYSTICA

Espero poder comentá-los em breve! :-)